1 - Problemas no Tribunal

Sirocco - A Ilha Vermelha


    Primeiro livro da trilogia Sirocco que traz Axel, Rhoddy e Setz como protagonistas


 


    Capítulo 1 - Problemas no Tribunal


    


    "Parecia que o problema não era o Juiz, mas sim o Capitão, que tentava o incriminar de todo jeito".


    


    O Juiz bateu o martelo três vezes, todos se sentaram. Como de costume, ele estava com uma toga preta, mas não usava aquela peruca branca – que convenhamos, é ridícula. A mesa alta que ele estava sentado era feira de madeira, uma madeira muito escura, mas com um tom brilhante, como se tivesse sido polida com materiais especiais e muito caros. Nas bordas das mesas, haviam entalhes que faziam rodopios e espirais. Eram bonitos, principalmente para pessoas que moravam em casas simples, e trabalhavam muito – ao contrário daquele juiz gordo.


    Um homem também vestido à caráter, levantou-se e começou a falar alto e em bom som. "Setz Volp, acusado de transporte de material ilegal, acusado de mentir para um oficial, acusado de apropriar-se de território da Marinha e acusado de ajudar piratas".


    O julgamento começou, ou digamos, a sessão de perguntas ao nosso amigo Setz. "Senhor Volp, o senhor nega alguma das acusações afirmadas?". Setz sabia que o Capitão tinha feito com que tudo o incriminasse. Mesmo sabendo que o Capitão Alexander Lughar tinha muita "honra" e "reconhecimento", tentou se defender, fazendo uma declaração que parecia impossível de ser feita por um acusado. "Não nego nada descrito". As pessoas que assistiam ao julgamento ficaram pasmas.


    O Juiz Elder Siegfried, o mais famoso no quesito crimes marítimos – se é que isto existe – retrucou. "Você é o primeiro criminoso a assumir seus crimes". Rapidamente Setz retomou a palavra. "Não assumo os crimes, assumo apenas que o que está escrito de fato aconteceu, não exatamente do modo que está descrito". "Como assim?". Disse Capitão com seu tom de voz alterado, como se algo o tivesse irritado.


    "Digamos que tudo aconteceu mas eu não transportei algo ilegal. Eu nem sabia que o que eu estava carregando existia até eu achar". Então o Capitão levantou e gritou. "Juiz Siegfried, ele está blefando de novo". Apontando seu dedo para Setz – como se isso fosse muito educado para o "Grande" Capitão Lughar da Marinha Costeira.


    Setz olhou para o Capitão com uma expressão cínica, e perguntou. "Capitão, me diga o que eu estava transportando que era ilegal?". Rapidamente ele respondeu apontando novamente para Setz, sem educação nenhum. "Você não sabe o que estava levando no barco?". Para fazer um suspense, virou-se às pessoas que viam o julgamento e gritou para que todos levassem um susto. "Estava carregando materiais que explodem!". E terminou fazendo um gesto com as duas mãos para o alto, simulando uma explosão, dando ênfase, para assustar as pessoas, e infelizmente conseguiu. Então as pessoas que assistiam ao julgamento ficaram espantadas e começaram a falar repentinamente, formando um barulho ensurdecedor. "Silêncio". Disse o Juiz batendo com o martelo uma única vez, mas o necessário. "Prossiga". Disse ele fazendo um gesto com a mão.


    Eu ainda não falei sobre a situação incómoda que Setz estava. Na sua cidade havia uma lei que dizia "Criminosos com mais de duas acusações devem ficar amarrados e presos por um fio no teto". Não era uma das situações mais confortáveis, mas poderia ficar pior, e muito. Rapidamente Setz lembrou-se de algo. "Tenho uma pergunta para fazer as pessoas presentes no julgamento". O Capitão, para própria segurança retrucou. "Que eu saiba as perguntas devem ser feitas a você". Disse ele de novo indelicadamente apontando a Setz. "Que eu saiba você é o criminoso, não?". O Juiz rebateu suspeitando de algo... "Estamos querendo que ele se defenda. Então deixemos que ele conte sua versão". E o Capitão cada vez mais, foi ficando irritado, como se algo o ameaçasse.


    "Vocês". Disse ele às pessoas, estas assustadas achando que ele faria alguma ameaça. "Eu nunca tinha ouvido falar dessas tal coisas que explodem, sabe?". As pessoas concordaram ligeiramente com a cabeça, e novamente o Capitão interrompeu levantando-se bruscamente do seu lugar e levantando a mão com o dedo indicador ao alto. "Como você nunca ouviu falar se você estava transportando?! Seu mentiroso! Juiz, este homem está blefando!". O Juiz parou. Olhou para o Capitão. E disse fitando-o com um olhar perspicaz. "Capitão Alexander Lughar, se não te conhecesse, acharia que está impedindo o Senhor Volp de se pronunciar...". Ele percebendo que o Juiz estava desconfiado, acalmou os ânimos e sentou-se respirando lentamente.


    "Prossiga". Setz retomando a palavr. "Materiais que explodem". Fez uma pausa, como se pensasse, porém já sabia exatamente o que falaria, e por três curtos segundos as pessoas esperaram. "Digamos que esses materiais que explodem poderiam ser algumas pedras que ao entrarem em contato com o fogo fazem uma pequena explosão, ou vinho, se jogarmos vinho no fogo a chama aumentará, certo?". E as pessoas sorriram e concordaram com tudo. E o Juiz continuou. "Se fosse assim todos nós já estaríamos presos". Disse o gordo, rindo.


    O Capitão tentando disfarçar, lentamente e calmamente sem se levantar, falou. "Mas as outras acusações? Explique também, você não conspirou com piratas? Como explica apropriação de território da Marinha?". "Se você querem saber tudo, vou contar".


 


***


 


    "Axel, tem um corpo no mar!". Gritou Rhoddy apontando. Axel estava com seus olhos arregalados. "Axel! Vamos ajudar?". "Se eu não tivesse te ajudado você já estaria morto, não?" . Disse ele, terminando com um sorrisinho, que foi retribuído por seu amigo.


    Axel e Rhoddy eram dois mercadores ou exploradores, alguns diziam que eram piratas, mas nunca haviam roubado nada. Porém, se achassem algo sem dono em algum lugar pegavam para eles, mas nunca haviam roubado nada, absolutamente nada.


    Rhoddy olhou para Axel. "Como nós iremos pegá-lo?". "Do modo que sempre pegamos coisas que estão na água". Disse ele enquanto revirava um pequeno saco, cheio de ferramentas. "Eu me amarro nessa corda e pego ele!". Disse ele mostrado uma corda que tinha acabado de ser retirada de seu saco entulhado de coisas . Rhoddy olhou para Axel. "Está bem, mas se você se machucar, não me culpe!". Disse ele dando um soco no braço de brincadeira.


    Ele amarrou a corda no começo do mastro - o único, porque o barco não era lá essas coisas - quando ele tocava o chão. Chamou Rhoddy, que amarrou com um nó digno de um marinheiro na cintura de seu amigo. Axel foi até o canto esquerdo do navio ver o corpo que estava lá, esperando ajuda de algum navio. Mas o corpo estava se afastando, era necessário ir rápido. Andou para trás, até alcançar o lado direito do navio. Correu o mais rápido possível. E saltou em busca do misterioso corpo que flutuava à deriva do oceano.


    Seu corpo chocou-se contra o mar. Fazendo um estalo surdo. Ele havia caído de barriga...


    Lembrou-se de procurar o corpo. Ele nadou habilmente até alcançar o corpo. Pegou o corpo e deu um grito. Uma corda voou em sua direção. Ele amarrou no corpo e deu outro grito. A corda com o corpo foi puxada. Ele começou a nadar em direção do barco. Quando alcançou, subiu pelas estacas de madeira.


    Depois de pegar aquele corpo a água os rapazes foram ver se estava vivo. "Rhoddy, eu não sei dessas coisas. Você poderia ver se ele está vivo?". Rhoddy agachou-se e pegou o punho, verificando a pulsação. "Está vivo!". Disse ele dando um pulo, e seu amigo também festejou. "Ele está vivo, agora temos mais um na tripulação!".


    Então aquele estranho levantou-se rapidamente, assustado, tossindo muita, muita água. "Onde eu estou?". Perguntou ele muito assustado e abatido, enquanto se afastava deles, olhando como se eles fossem uma ameaça. "Eu sou Axel e este é Rhoddy, você está no nosso barco agora. Quem é você?". "Sou Setz. Aonde vamos? Preciso voltar para casa!". Disse ele deitando-se de novo de tão exausto que estava. "Prazer Setz. Ainda não sabemos para onde vamos. Para levar você para casa precisamos saber primeiro onde é a sua casa" disse Rhoddy amigavelmente, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar.Setz só queria comer alguma coisa e tomar água, queria estar em casa, descansar um pouco. Mas a sua volta ele via uma paisagem extraordinária. Acima um céu azul claro lindo, com nuvens que pareciam tocáveis. A linha do horizonte separava o magnifico céu do grande oceano que ao movimento do vento, refletia a luz do sol como se fosse coberto de prata brilhante. Neste momento ele olhou por um segundo a paisagem. Contemplou. Até ficar inconsciente novamente.


    ***


    


    "Senhor Juiz, este homem está mentindo". Gritou o Capitão sem mais se segurar. "Como o senhor sabe que ele está mentindo?". Perguntou o Juiz sem entender. "Porque quando achamos o barco apenas ele estava no barco". Afirmou o Capitão com certeza, olhando para Setz com um olhar malicioso. Como se quisesse trucidá-lo com as próprias mãos de tanta raiva e ódio. Ele parou e pensou no que poderia falar para despistar está acusação de falsidade. Olhou para o Juiz, e ficou pensando, olhou para o Capitão... "Por favor Senhor Volp, diga alguma coisa". Insistiu o Juiz impaciente. Rapidamente os olhos de Setz passou pela sala inteira, tentando ter alguma ideia. Percebeu que alguém estava saindo do julgamento e pensou.


    "Axel e Rhoddy não foram encontrados no barco porque eles fugiram quando viram que a Marinha estava nos perseguindo". Mas logo percebeu que o Capitão falaria. "Mas por que você não fugiu?". Ele ficaria sem resposta."Senhor Volp, estamos esperando, por favor se explique" insistiu o Juiz, sem paciência de esperar esta tal explicação. "Vamos Setz, se explique" disse o Capitão sarcasticamente, sabendo que não havia explicação. "Outra coisa, porque a sua história começa quando eles te acham no barco? Porque eles te acharam flutuando? O que aconteceu antes?". Disse o Capitão querendo arrancar algo dele. Logo na hora, Setz ficou espantado, se tivesse que explicar tudo, sua situação não ficaria muito boa. "Capitão, eu acho que não seria e não será necessário que o Senhor Volp conte sua vida inteira". Disse o Juiz, fazendo com que Setz ficasse mais tranquilo. Uma saída surgiu na cabeça de Setz. Uma saída simples, mas que deu certo ."Vocês disseram que queriam ouvir a minha versão da história não? Então deixe-me contar tudo e vocês entenderão". Parecia que o problema não era o Juiz, mas sim o Capitão, que tentava o incriminar de todo jeito.





 



 


Nenhum comentário:

Postar um comentário